Muita gente anda falando horrores sobre A Origem. De filme do ano, novo Matrix, a “vamos dar um cheque em branco pro Nolan”. Parece que, de uma hora para outra, todos viraram redatores de capas de DVD de filmes, aquelas que mostram comentários de grandes jornais. Comentários que você só lê nessas capas. Imperdível. Grande sacada. Melhor filme sobre tal coisa. Acho que isso é um pouco dessa nossa neura de viver uma grande época. Todos querem viver o melhor momento da história do planeta. É por isso que é tão comum jornais comentarem quando acontece alguma tragédia: “uma barbaridade dessas acontecendo em pleno século XXI?”. Como assim, cara-pálida? Quem falou que o século XXI é o melhor dos séculos? Só porque você nasceu nele? Mas isso é assunto para outro texto.
A Origem conta a história de um cara que tem a habilidade de entrar no sonho das pessoas para roubar ideias que estejam no subconsciente. Hummm. Falando assim até parece um bom argumento. Merece roteirizar. Mas Nolan está em Holywood. Aí fode, mano. O sabichão que consegue entrar no sonho da galera é o único expert e vai fazer isso uma última vez. Só que nessa última vez ele encontra obstáculos muito mais complicados do que ele normalmente encontrara. Putz. Lembrou de algum filme assim? Em 60 segundos, Nicholas Cage roubou o carro pela última vez para ajudar o irmão. Pitt e Clooney fizeram o último grande roubo para ajudar o amigo idoso em 11 homens e um segredo. Só para ficar nesses dois. Ah, e para completar tal missão, ele conta com uma equipe especializada que também são os melhores no que fazem. 60 segundos tem coadjuvantes assim. 11 homens e um segredo também. Missão Impossível também. Novamente só para ficar nesses. Ah, não, velho. Vou levar a sério um filme desses?
Bom, mas esse argumento do sonho é bom. Bom se você mostrar de forma plausível como entrar no sonho de alguém. Não com uma injeção de sedativo que não se comenta nem sobre a fórmula. Como se química fosse somente aquele laboratório de brinquedo que todo mundo na faixa dos 30 brincou na infância. Aí não, mano. Clube da luta tem uma passagem sobre sonho que é muito mais interessante que A Origem. Edward Norton não consegue dormir há alguns dias e reflete sobre sua situação. Ele não está nem acordado nem dormindo, está em um estado alterado da mente. 5 minutos que valem mais que as duas horas e quarenta da fita de Nolan.
Então por que escrevo sobre A Origem? Porque Nolan sabe dirigir. A história é contada impecavelmente. A trilha é espetacular e ele sabe contar parte da história só usando música. Os diálogos são bons e há só uma piada holywoodiana. Bom, uma não compromete. Nolan usou a boa direção, trilha e bons diálogos para amadurecer uma série presa na infância (Batman) e usou a mesma trinca para tentar salvar A Origem. Salvou mas não conseguiu levar a fita aonde o argumento dela merecia. Essa ainda não é a hora nem a vez de Nolan. Mas seu momento vai chegar. Com pouquissímos bons diretores capazes de fazer grandes estúdios assinarem cheques em branco, Nolan pode ser um deles.
6.9.10
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