19.12.05

Vc escolhe uma musica e ele já sabe o que vc quer ouvir

www.pandora.com
Uma nota sobre livros de arte.

Eles custam bem mais caro do que os outros livros.
Eles tiram o espaço dos livros de teoria.
Eles desincentivam as pessoas a irem a exposições, já que as pessoas podem ver as obras em casa.
Mas sem eles, como vamos "conhecer" tais obras?

6.12.05

www.terrorismografico.com.ar

Vale a pena apesar da demora para carregar.

11.11.05

Muito bom o trabalho dele.

www.guedel.biz

9.11.05

Um homem acorda. Ele mora em uma caixa. Sai da caixa e entra em uma menor, capaz de se locomover. Alguns minutos depois, ele sai dessa pequena caixa e entra em uma igualmente pequena, mas que se locomove na vertical. Ao sair, ele entra em uma outra caixa. E passa o dia lá. Ao anoitecer, ele novamente entra na caixa vertical e depois na caixa horizontal e volta para a sua caixa de origem.
Será que existe vida fora da caixa?

3.11.05

Filme da vez: Jardineiro Fiel. Excelente. Tudo do filme é de primeira: direção, roteiro, acting, casting, fotografia. Fiquei orgulhoso de ter sido dirigido por um brasileiro. A história emociona. Conta como laboratórios europeus testam medicamentos no Quênia. Eles usam quenianos como cobaias e não estão nem aí para os efeitos colaterais. O filme é muito mais que isso, mas vou parar por aqui.
Fiquei pensando na mulher que saiu chorando do cinema. Ela, ao contrário do pessoal do laboratório, se importava com as pessoas sendo tratadas como cobaias, com a exploração de um país. Passei pela mulher e me convenci mais ainda da fragilidade humana. De não sabermos lidarmos com as coisas. De termos várias explicações para um fenômeno. Várias vertentes, várias óticas. Me convenci da nossa incompetência perante o mundo, da total ausência de rumo, da inexistência de um manual para a vida. Só isso poderia gerar atrocidades, na visão de um, ou ser só um jeito de ganhar dinheiro, na visão de outro. Só isso geraria indignações no público, até mesmo revolta, ou reações blasé.
Me senti indignado com a situação exposta no filme. Mas minha opinião é só mais uma difusa conclusão dessa vida que não tem manual.

28.10.05

Você é um brasileiro pocoto?

http://wmv.cc/luciano/videos.htm

25.10.05

Conto Moderno


Conheci-a. Olá, aceita um namoro? Não, obrigada. Vamos ao cine então? Ok. Esse filme combina tanto com uma beijoca. Smack. Debaixo do prédio. Teligo amanhã? Não, não precisa. Poxa…tudo bem. Ligo dias depois. Vamos resolver tudo com uma amizade? Vamos, isso estava me matando. Tenho uma novidade: estou namorando. Que canalha.

20.10.05

www.cursododalto.com.br

14.10.05

Todo mundo fala que uma imagem é lida muito mais rápido que um texto. Por isso esse enxurrada de imagem na nossa cabeça: celular que tira foto, ipod com vídeo, mp3 com vcd. Eu discordo. Para mim isso é desculpa para gente continuar burro. Ou você entende um caravaggio em 30 segundos?

http://www.emaus.org.br/galeria/caravagio.jpg
Você sai de casa e vai até a parada de ônibus. Você entra na condução e de repente o motorista pára no meio do caminho. Ele desce do ônibus e entra em uma casa. Depois de algum alvoroço você descobre que ele está visitando a esposa e vai demorar uma meia hora.
Reação sua: ah vá para puta que o pariu motorista.
Reação dos outros: ah di boa. Vamos conversar um pouco.

Isso acontece em Samoa, uma ilha paradisíaca da Oceania.

E você, tá correndo para quê?

30.9.05

http://www.volumezero.org/draw

27.9.05

Para aquela galera que gosta de sair correndo pelado em campo de futebol.

http://www.streaking.co.uk/halloffame01.htm

23.9.05

Vão ver Hotel Ruanda. Nem preciso dizer que o texto é bom pacas. Ah, e imagem tb eh texto viu queridas leitoras.

14.9.05

Filem bom tem que ter um texto bom. Não adianta. Não importa sobre o que é a história. Só interessa como ela é contada. Já vi filme bom sobre lutador de boxe, sobre jogador de sinuca e sobre jogador de poker. Esse é o truque. Tornar interessante uma cena em que o cara vai matar a bola 8 sem matar o bolão. Precisa de um baita texto.

9.9.05

Ele sabe fazer internet, mas fica fazendo isso.


http://www.izpitera.ru/lj/tetka.swf
Você já tentou passar alguma data comemorativa sem dar presentes?

8.9.05

Equação matemática


Definitivamente eu não tenho preferência.

Elas podem ser de qualquer jeito.

Mas que tenham o mesmo dinheiro que eu.

Que saiam para os mesmos lugares.

Eu não quero gordas.

Nem altas demais.

Nem ligadas em moda demais.

Talvez uma pessoa não muito alta.

Não pode ser muito branca.

Eu não procuro por elas o tempo todo.

Nem com a mesma intensidade.

29.8.05

Ei tarados, cuidado! Vcs nao sabem do q um celular com camera eh capaz.


http://www.flickr.com/photos/94886948@N00/35501732/in/photostream/

26.8.05

Li uma crítica sobre shakespeare dizendo que ele só é bom por causa do texto. Que a história nem é lá essas coisas. Mas contada de uma forma excepcional se torna brilhante. A mesma coisa acontece com Closer - perto demais de Mike Nichols. A direção é legal, a fotografia não atrapalha, a atuação tb. Mas o que arrebenta mesmo é o texto. Basta imaginar um diálogo entre um dermatologista e uma fotógrafa. Tem tudo para dar errado, mas não deu. Se eu fosse você ia correndo ver Closer. Talvez você aprenda a escrever um pouquinho.

23.8.05

O filósofo paulista, Sérgio Lima, lançou um livro com apenas 22 frases. O resto são indicações bibliográficas. Apartir de uma frase você deve ler obras de outros autores. Com essa sequencia de estudos, Sérgio vai construindo seu raciocinio.
Infelizmente vou ficar devendo o nome do livro. Prometo em breve avisá-los.

19.8.05

O amor não acaba

O amor acaba em cafés engordurados. Acaba ao meio do cigarro. Ou no desenlace das mãos no cinema. Como se elas soubessem antes que o amor tinha acabado.
O amor não se vai. Ele fica ali. Cigarros nos dedos…aquela fumaça que passa em nossa frente. Que a brisa do vento não responde ao bater em nosso rosto. Os olhos querem ir ao longe, mas não passam da confusão. Tudo o que foi dito sobre o assunto. Onde estavam essas pessoas?
O amor fica. E impregna nas roupas, nas fotos. Daqui há um instante você esquece isso. O amor nunca sai. É ruim…
Pense na tristeza. As mãos já não são mais tão sensíveis. Qual vai ser o próximo passo de dança?
Eu penso todos os dias na mesma coisa. Já não é mais amor.

Colaboração de Paulo Mendes Campos

16.8.05

Dessa vez eu não vou falar nada. Só vejam o documentário Da Vinci, o criador do Sudário?, do National Geographic. É sem comentários.

2.8.05

www.mundoperfeito.com.br
Eu vi Frida, mto bom. A história é boa, o roteiro é bom, os atores são bons. Mas quem comanda mesmo é a diretora Julie Taylor. Mostrar as inspirações que levaram a um quadro de uma pintora que pintava sentimentos não é nada fácil. Ainda mais sem usar palavras.

19.7.05

Vixi maria, cadê nossa privacidade?
earth.google.com
Hj tem celular que acessa internet, ipod que baixa noticia e mais um tanto de gadget pra deixar vc conectado com a mesma noticia que toca na rádio, que passa na televisão e que vc já ouviu todo mundo do trabalho comentar.
Vá ler jornalismo de verdade...

Pif Paf - 40 anos depois.
Millor Fernandes
Editora argumento

12.7.05

A parede


Um dia o cara parou na frente de um quadro e começou a rir. O pintor, achando aquilo tudo muito estranho, se aproximou e perguntou: por que o senhor ri tanto? Olha, a mulher está verde. Mas meu senhor isso é um quadro, não é uma mulher.
Por que a parede de uma casa tem que ser branca? Ou azul? Ou verde? Ou de uma cor só numa chatice sem fim?
Vai parede, me chama para dançar. Me diz algo bonito. Invade o teto e flerta com a luminária, com o quadro, com a cortina. A parede é a única que não tem libido.
Eu quero essa parede imóvel. Imóvel e companheira. Para eu olhar para ela todos os dias. Nos bons e nos ruins.
O que vai ter na minha parede? Não sei…é a parede quem escolhe. A vida é dela.
A minha parede vai ser minha se ela me aceitar. Ela vai dizer algo de mim se ela quiser. Ela vai ser simples ou complicada se ela quiser. Ela só não vai ser livre porque ela não quer.

8.7.05

www.hotelfox.dk
Eu vi Flashdance. Melhor, eu revi. Antes eu achava brega. Agora eu continuo achando brega, mas é muito bom. Não que eu esteja gostando do brega, mas a fotografia é muito boa. O lance de filmar na contraluz, de usar fundo infinito nas cenas de dança, os skylines da cidade. Tudo muito bem pensado e executado. E o aquecimento antes da dança? Cena estourada das partes do corpo, só a luz direta entrando pela janela. Muito bem feito. Vale a pena dar uma olhada no trabalho do diretor: Adrian Lyne.

30.6.05

www.hotelfox.dk

28.6.05

Eu sei que a gente não tem nada de francês. Mas esse livro /HQ merece a atenção. A história é deles lá, mas não deixa de ser boa.


O grito do Povo
Jacques Tardi e Jean Vautrin
Ed. Conrad

http://www.noolhar.com/opovo/vidaearte/479621.html

23.6.05

Formas Inorganicas



Eu vivo na solidão do certo
Do meticuloso enganado
Do traçado
Cada linha passa
Acontece aonde?

Vai linha, vai
Esconde a linha torta
A que cega, a que mostra
A que faz do caos um barato

8.6.05

http://www.nlm.nih.gov/research/visible/visible_gallery.html

29.5.05

Cinema no Brasil é dificil. (Que frase!) Mas todo mundo sabe o nome de um bom diretor ou de um bom filme brazuca, vai no cinema e prestigia. Pois é, lá na China tb é assim, tem diretor bom de montão. Fruit Chan de Holywood, Hong Kong é um deles.

25.5.05

Em tempos de lado negro da força...
www.sithsense.com

19.5.05

Eu não achei o site desse cara. Touhami Ennadre. É um fotógrafo. Mas pode ir no google e procura imagens com o nome dele. A orelha do principal livro dele diz assim: "Ennadre is the Van Gogh of photography..." Talvez eles não estejam mentindo.

11.5.05

O melhor de Benjamim, de Monique Gardenberg, são as cores. As cenas tem muitos objetos brancos e a luz sempre estoura. O interessante é que o branco não fica espacial, não dá aquela sensação de coisa extra-terrena, tipo AI. O branco não cria aura. Bom também quando ela usa as cores para representar o passado, tudo saturado ao invés de lavado. Conta muito quem apresenta um personagem com presente lavado e passado saturado.

4.4.05

www.julesarthur.com

18.3.05

Eu fui ver Madame Brouette, um filme senegalês do diretor Moussa Seme Abssa. E também pensei como vcs agora ao lerem o título do filme: não sabia o que esperar. Porque para nós tudo que vem da África parece longinquo. Mas o que vi foi um filme bem brasileiro, que fala de comunidades pobres, de violência familiar, de pobres que usam da malandragem para sobreviver. De mulheres fortes que lutam para se sustentar. Se eu não tivesse falado o nome do filme, a sinopse aí poderia ser do Central do Brasil, do Cidade de Deus, do Rio 40 graus, do Assalto ao trem pagador...mas não é, é de um filme senegalês. E a gente continua a virar as costas para eles. Até o diretor reclamou, disse que teve que pegar um vôo para Paris antes de vir para cá...

8.3.05

Incentivo para quem fica com preguiça para refazer as coisas...

http://t2.technion.ac.il/~snoom/hand.swf

7.3.05

Eu vi Finding Neverland. Bom. Quem mexe com criação de alguma maneira se sentiu renovado. Ver o roteirista olhar para um tema que já foi tão explorado e conseguir ainda tirar uma boa história é realmente inspirador.

3.3.05

Estão propondo um novo caminho pro mundo...
www.worldjumpday.org

1.3.05

Pés

Passo aqui, passo acolá. Mais um passo. Pés perambulam. Os que perambulam pernoitam por lá mesmo. O pé põe o peso por cima. Tem uns que não. Então o pé pára, pensa e não sabe muito o que fazer. O peso até pede desculpas. Mas não pode fazer nada. Peço perdão ao passo por carregar o peso. Ele pede, eu não. Perdão por ser pesado? Trabalho dele. À pata nada devo. Dever é culpa, e se é meu, não desculpo. Não desculpo, nem perdôo…Perdão pede para ser ponderado. Se ao pó quer retornar: problemas particulares. O pé do peso é dele. O peso do corpo é dele também. Dizem que o pé é pó concentrado. Que seja. Contanto que o peso não pese no passo. Pé…

24.2.05

Não acredito que 98% das pessoas não sejam capazes de resolver essa porcaria.

Teste do Einstein
O cara é foda mesmo. Todo mundo diz que ele não erra nunca na escolha dos papéis, é verdade. O Johnny Depp tá excelente em Janela Secreta. Quem errou foi o roteirista. Que historinha mais chata. Aonde que uma histórias daquelas iria se desenrolar por causa de um plágio? Quando acontece a virada, que é muito boa por sinal, o filme já foi para às cucunhas.

21.2.05

A dança dos guarda-chuvas


Um dia desses me deparei com um anúncio homenageando São Paulo. Vários guarda-chuvas vistos de cima formavam uma famosa garrafa de vodka. Imediatamente me lembrei dos dias chuvosos de verão e de como as pessoas não sabem andar com guarda-chuva. Literalmente, viram açúcar quando chove. Porque elas não conseguem desviar um pouquinho o guarda-chuva para não atingir a pessoa que vem na direção contrária? O que umas gotinhas a mais podem prejudicar a roupa? Afinal, ela foi feita para molhar, óbvio que só na máquina, mas algumas gotas não são motivo para se entrar em pânico.
Fiquei pensando em como é temporal em Paris. Será que as pessoas desviam ou não o guarda-chuva? Eu me molho um pouco para a madame passar, não tem problema. Mas e se for madame com madame? Provavelmente impera a arrogância francesa. Porque essa fama tem que vir de algum lugar.
Já na Inglaterra é o cavalheirismo que emperra tudo. Porque é um querendo que o outro passe primeiro. E como o que aceita primeiro parece ser menos cavalheiro que o outro, ninguém anda. Se bem que com o céu cinza quase o ano todo, eles devem esquecer um pouco disso de vez em quando. Deve ser por isso que nem todo mundo lá é sir.
Infelizmente eu não moro no velho continente. O que também não me livraria de me machucarem com o guarda-chuva. Talvez a Constanza Pascolato devesse escrever um capítulo sobre guarda-chuvas no seu próximo livro. Ótima solução. Enquanto isso não acontece, o jeito é rezar para não encontrar nenhum guarda-chuva vindo em sua direção. Ou para que São Pedro colabore.
Eu só vi filme estado unidense. A vida de David Gale...como perder um homem em 10 dias...nas vésperas do Oscar. Se bem que não teria visto muita coisa diferente assistindo os filmes do Oscar. Dois plot points...apresentacão nos primeiros dez minutos...enredos com dois níveis... personagens centrais e seus circulos de vida....
Nada muito diferente...entediante. :-(

3.2.05

Vão assistir Coisas belas e sujas, de Stephen Frears. É bom. A parte técnica é muito bem executada e o roteiro tem cenas de delírio tipo, "Quem são vcs? Nós somos as pessoas que vc não vê...nós dirigimos seus táxis...limpamos seus quartos...chupamos seus paus..."
Mas o mais legal é que o personagem principal é nigeriano. E não é um filme sobre a história do negro, onde só nesses casos é que um africano vira protagonista. Tá certo que ele não tá nas melhores situações da vida, é um imigrante ilegal, mas só de citar pratos típicos da Nigéria, ter cenas faladas em iorubá, bantu e somali já valem a pena. Mas dá para perceber que ainda tem muita coisa a melhorar. No material promocional quem aparece na foto é a coadjuvante. Mas tudo bem, nada é perfeito.

24.1.05

Elektra é legal. Não empolga como outros filmes baseados em HQ.Até porque o diretor quis que o filme não se parecesse com filme de HQ. Mas aí é que está o mérito, ele pegou uma história de quadrinhos e transformou em filme de gente grande. A fotografia é mto boa, a atuação, a narrativa e o uso intenso de close só mostram que o filme é mesmo adulto. A história só peca mesmo em empolgação, ficou difícil se emocionar com a personagem mas deu uma vontade de comprar os quadrinhos.

20.1.05

Anunciaram agora: a causa da morte do ex-presidente do Mcdonalds foi o excesso de junk food...

18.1.05

Demorou, mas enfim mais um texto.


A Menina do tracinho


O acento que ela mais gostava era !. Gostava tanto que só usava ele. A mãe que sabe: quando era pequena a menina fazia cara de brava, cerrava os dentes e !!!, não queria comer salada no almoço. Chegava a ser engraçado quando lhe perguntavam coisas banais, pois todos já sabiam o que iriam escutar. Era sempre sim!, não!, mais ou menos!. Até o mais ou menos. O maior dos meios-termos vinha com imponência.
E assim ela cresceu, remedando para lá e para cá, acompanhando tudo que dizia, os três tracinhos-pontos. Não queria mesmo saber de outra coisa. !, . , ? , escolhe um: !!!. O gosto era quase um amor. Perguntava afirmando, afirmava afirmando mais ainda e para botar um ponto no final o tracinho sempre vinha por cima.
Na escola a professora já não mais chamava-a pelo nome, apenas levantava a cabeça e olhava, assim como quem dá presença com a ausência da palavra. Não adiantava muita coisa, a menina logo lhe disparava um !. Quem mandou não pronunciar seu nome? Quem mais se irritava era a professora de português. Falava assim: mas minha filha, tentando pela doçura o convencimento, e se você misturar com outras coisas? Pode ser !? ou ?!? ou então !… ou !,. Não adiantava muito, nem as combinações esdrúxulas que inventara na hora mudaram a menina. A essa altura vocês já imaginam o que a professora teve como resposta. Pior foi ver a professora usar uma de suas próprias sugestões como desculpa para a diretora: ?!?. Numa cara assim de quem não sabe que sinal usar para explicar o fracasso educacional.
No recreio quem se divertia eram os meninos. Pura levadice, zombar da condição da coleguinha. Se escondiam atrás das árvores, ficavam a espiar, como se de tocaias estivessem, e ao ouvirem os passos dela, tacavam-lhe pontos aos bocados. Só para verem-na instantâneamente disparar tracinhos para todos os lados. E se riam e se rolavam. Numa malvadeza que deixa saudades.
Mas os tempos das brincadeiras nunca são para sempre. Um dia ficou assustada quando cruzou a árvore e um menino apareceu. Mas estranhamente não lhe tacou um pontinho. Ficou parado, como quem tenta pela primeira vez fazer uma pergunta, mas não fez. Você não vai me tacar um pontinho? perguntou ela, meio sem jeito. Ele balançou a cabeça, meio que dizendo “não, senhora”. Mesmo que ela não fosse uma senhora. E ela sem entender nada, não teve coragem de disparar um tracinho-ponto sequer. Esperou dois minutos. Dois minutos é muito tempo para se esperar por uma pergunta, mas ela não sabia mesmo o que fazer, então esperou.
Ele ainda continuava trêmulo em sua frente, a boca tremendo igual onda quando pedra cai no lago. Ela logo se impacientou, aquela espera enorme tinha deixado-a com muita fome. Jogou dois tracinhos-pontos, como força de hábito e foi-se embora.
Foi quando ele resolveu atacar a pedrinha. E acertou em cheio os tracinhos. Não em cheio porque poderia ter quebrado, o golpe foi tão leve que só entortou os tracinhos. Cada um ficou com uma pequena curva bem no meio do traço. O engraçado é que cada um ficou com uma curva para um lado, como se teimassem com a física e formassem um coração. É, um coração de interrogação.
A menina ficou tão surpresa que !!!. E correu em disparada para casa. Corria de fome e não exatamente de felicidade. Mas era a primeira vez que seus tracinhos tinham mudado e ela tinha gostado. Alguém gostava dela. E ao correr soltava tracinhos pontos. O menino achou que era de felicidade. O estômago achou que era para anunciar a fome. Mas na verdade nem ela sabia ao certo porque soltava aquilo.
No outro dia, ele ficou a esperá-la no portão. É assim que os namorados fazem, não é? Mas a menina distraída, como sempre estava naquela hora, desapercebeu-se do menino no portão. Talvez estivesse tão feliz por se lembrar do lanche de ontem e por ter adorado seu novo pontinho traço que nem viu o responsável por aquilo tudo lhe esperando. Responsável só pelo pontinho traço porque lanche tão gostoso só a mãe dela conseguia fazer.
Na aula ele ainda tentou chamar sua atenção. Mas ela, menina estudiosa, disparava tracinhos-pontos para professora que nunca chamava seu nome na chamada e para os alunos que perturbavam a aula. Sim, eram muitos tracinhos pontos voando pela sala. Ficava quase impossível ouvir o que ele dizia.
Mas no bolsinho do vestido ela guardara o mais especial dos tracinhos pontos: aquele que tinha sido delicadamente atingido pela pedrinha.
No recreio foi atrás do menino, não sabia ainda muito bem pra quê, mas foi. E rodou atrás do pátio inteiro, foi no campinho, na lanchonete, olhou atrás das árvores mas nada de achar o menininho. Até que o viu no parquinho construindo castelos, com uma outra menina. Pareciam felizes. E mesmo sem vê-la foi como se tivesse jogado uma pedrinha e acertado no tracinho ponto especial que ela guardava no bolsinho do vestido.
De repente, escorrendo feito água por um furinho do bolsinho, sairam três pontinhos. Assim sem nenhum traço em cima. Ficou um pouco triste e decidiu pedir para mamãe nunca mais deixar seus vestidinhos furarem. Era assim que os amores acabavam. E nunca mais tacou um tracinho ponto.

10.1.05

www.humanadspace.com

4.1.05

Refrescar a memória é quando alguém te lembra de alguma coisa. Engraçado, o slogan de uma cerveja era refresca até pensamento. Logo o de uma cerveja...